segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
2013
Hoje é dia de reflexão, balanço, decisões, promessas, crenças, superstições.
Acredito nos anos ímpares.
Havemos de vencer!
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Mulher ao volante de um reboque
Cá está uma coisa que nunca tinha visto e que me surpreendeu.
Sim, é estúpido ter-me surpreendido, mas é verdade, não estava à espera de ver uma mulher com este trabalho. Chamem-me o que quiserem.
Mas atenção! Fiquei agradavelmente surpreendida. Não têm que existir trabalhos para mulheres e trabalhos para homens.
Sim, é estúpido ter-me surpreendido, mas é verdade, não estava à espera de ver uma mulher com este trabalho. Chamem-me o que quiserem.
Mas atenção! Fiquei agradavelmente surpreendida. Não têm que existir trabalhos para mulheres e trabalhos para homens.
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Feliz Natal
Chove. É dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Poema ao Menino Jesus
VIII - Num Meio-Dia
de Fim de Primavera
Num meio-dia de fim
de primavera
Tive um sonho como
uma fotografia.
Vi Jesus Cristo
descer à terra.
Veio pela encosta de
um monte
Tornado outra vez
menino,
A correr e a rolar-se
pela erva
E a arrancar flores
para as deitar fora
E a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para
fingir
De segunda pessoa da
Trindade.
No céu era tudo
falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores
e pedras.
No céu tinha que
estar sempre sério
E de vez em quando de
se tornar outra vez homem
E subir para a cruz,
e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à
roda de espinhos
E os pés espetados
por um prego com cabeça,
E até com um trapo à
roda da cintura
Como os pretos nas
ilustrações.
Nem sequer o deixavam
ter pai e mãe
Como as outras
crianças.
O seu pai era duas
pessoas
Um velho chamado
José, que era carpinteiro,
E que não era pai
dele;
E o outro pai era uma
pomba estúpida,
A única pomba feia do
mundo
Porque não era do
mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha
amado antes de o ter.
Não era mulher: era
uma mala
Em que ele tinha
vindo do céu.
E queriam que ele,
que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai
para amar com respeito,
Pregasse a bondade e
a justiça!
Um dia que Deus
estava a dormir
E o Espírito Santo
andava a voar,
Ele foi à caixa dos
milagres e roubou três.
Com o primeiro fez
que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo
criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou
um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na
cruz que há no céu
E serve de modelo às
outras.
Depois fugiu para o
sol
E desceu pelo
primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha
aldeia comigo.
É uma criança bonita
de riso e natural.
Limpa o nariz ao
braço direito,
Chapinha nas poças de
água,
Colhe as flores e
gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos
burros,
Rouba a fruta dos
pomares
E foge a chorar e a
gritar dos cães.
E, porque sabe que
elas não gostam
E que toda a gente
acha graça,
Corre atrás das
raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos
pela estradas
com as bilhas às
cabeças
E levanta-lhes as
saias.
A mim ensinou-me
tudo.
Ensinou-me a olhar
para as cousas.
Aponta-me todas as
cousas que há nas flores.
Mostra-me como as
pedras são engraçadas
Quando a gente as tem
na mão
E olha devagar para
elas.
Diz-me muito mal de
Deus.
Diz que ele é um
velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no
chão
E a dizer
indecências.
A Virgem Maria leva
as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo
coça-se com o bico
E empoleira-se nas
cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é
estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não
percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as
criou, do que duvido" —
"Ele diz, por
exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não
cantam nada.
Se cantassem seriam
cantores.
Os seres existem e
mais nada,
E por isso se chamam
seres."
E depois, cansados de
dizer mal de Deus,
O Menino Jesus
adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo
para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na
minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna
Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é
natural,
Ele é o divino que
sorri e que brinca.
E por isso é que eu
sei com toda a certeza
Que ele é o Menino
Jesus verdadeiro.
E a criança tão
humana que é divina
É esta minha
quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda
sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo
olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som,
seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que
habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que
existe
E assim vamos os três
pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e
rindo
E gozando o nosso
segredo comum
Que é o de saber por
toda a parte
Que não há mistério
no mundo
E que tudo vale a
pena.
A Criança Eterna
acompanha-me sempre.
A direção do meu
olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento
alegremente a todos os sons
São as cócegas que
ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um
com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um
no outro,
Mas vivemos juntos e
dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e
a esquerda.
Ao anoitecer
brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de
casa,
Graves como convém a
um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um
universo
E fosse por isso um
grande perigo para ela
Deixá-la cair no
chão.
Depois eu conto-lhe
histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque
tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que
não são reis,
E tem pena de ouvir
falar das guerras,
E dos comércios, e
dos navios
Que ficam fumo no ar
dos altos-mares.
Porque ele sabe que
tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao
florescer
E que anda com a luz
do sol
A variar os montes e
os vales,
E a fazer doer nos
olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e
eu deito-o.
Levo-o ao colo para
dentro de casa
E deito-o, despindo-o
lentamente
E como seguindo um
ritual muito limpo
E todo materno até
ele estar nu.
Ele dorme dentro da
minha alma
E às vezes acorda de
noite
E brinca com os meus
sonhos.
Vira uns de pernas
para o ar,
Põe uns em cima dos
outros
E bate as palmas
sozinho
Sorrindo para o meu
sono.
......................................................................
Quando eu morrer,
filhinho,
Seja eu a criança, o
mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro
da tua casa.
Despe o meu ser
cansado e humano
E deita-me na tua
cama.
E conta-me histórias,
caso eu acorde,
Para eu tornar a
adormecer.
E dá-me sonhos teus
para eu brincar
Até que nasça
qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.....................................................................
Esta é a história do
meu Menino Jesus.
Por que razão que se
perceba
Não há de ser ela
mais verdadeira
Que tudo quanto os
filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro (in Guardador de Rebanhos)
domingo, 23 de dezembro de 2012
Na minha cama ou na tua?
Ontem, à hora da sesta, decidiram que queriam dormir na mesma cama. Normalmente isto dá confusão, portanto avisei que ao mínimo ruído iria lá, daria uma palmada em cada uma e dormiriam nas respetivas camas.
Não ouvi nada.
Estranhei.
Daí a um bocado decidi ir espreitar.
Tinham-se mudado as duas para a outra cama sem fazer o mínimo barulho.
São tramadas estas miúdas.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Prendinhas de Natal
Os doces estão feitos e já habitam os frasquinhos maravilha do IKEA.
Os cartões das feijocas com desejos de Feliz Natal já estão impressos e cortados.
Agora é só começar a distribuição!
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
A S. e o teatro
Parece que a coisa está a melhorar... a passos pequeninos, mas a melhorar...
No sábado fomos à aldeia do Natal e, se ao início houve choro e gritos e tremores e súplicas para virmos para casa, depois da primeira volta ao espaço, ela já não queria sair das casinhas dos duendes (claro, desde que isso significasse não ter uma grande interação com essas pessoas estranhas de caras pintadas e vestidas de maneira diferente!!!).
Ontem, foi ao teatro com a escola e parece que de início chorou, berrou, enfim, o filme do costume, mas depois aninhou-se a uma das auxiliares e viu a peça até ao fim.
Nota importante - quando conversámos na viagem de carro para casa, confessou-me que tinha gostado do teatro!
Já vejo luz ao fundo do túnel! A miúda, que é uma teatreira de primeira, há-de gostar de teatro!
P.s. - Hoje, havia um recado de mau comportamento no placard da sala delas. Dizia mais ou menos isto "A S. não pode entrar na Biblioteca, porque rasgou três folhas de um livro. Estamos todos muito tristes." Ai!!!
sábado, 8 de dezembro de 2012
Carroça ao poder!
Depois de pagar 414€ pelo arranjo do mais pequeno e ter a previsão de cerca de 2000€ pelo arranjo da maior, estou a pensar seriamente em começar a andar de carroça (provavelmente um burro ou um cavalo sai-me mais barato!
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Palavras dos outros que encaixam - II
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Palavras dos outros que encaixam
Apontamento
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
Álvaro de Campos
