Muito
se fala, e se tem falado, sobre a realização dos exames nacionais. Alunos que,
passadas aquelas duas horas e meia, saem
a chorar, porque a prova era muito difícil, outros que saem contentes, porque
afinal era fácil, etc, etc, etc. Ninguém fala dos professores classificadores dos
exames, ou melhor, de como todo este processo se desenrola e das injustiças
existentes.
Não, não vou tecer comentários aos
critérios de correção e à subjetividade a eles inerente (tome-se o caso de
Português – 639, em que os cenários de resposta do grupo I iniciam da seguinte
forma, e passo a citar, “A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se
enunciam, ou outros considerados relevantes”. O que é relevante para mim... mas
esta questão daria outro texto. “Não vou por aí”.),
interessa-me expor o caso gritante dos professores classificadores de exames
nacionais.
No ano letivo de 2010/2011, o GAVE e
o Ministério da Educação decidiram formar professores classificadores de exame
e, para isso, alguns representantes de todas as disciplinas tiveram dois dias
de formação por esse país fora, onde, de uma forma geral, refletiram sobre a
tipologia das questões e analisaram respostas de alunos de exames do(s) ano(s)
anterior(es), fazendo propostas de classificação através dos respetivos critérios
de correção. Esta formação compreendia também a realização de um relatório
final após a correção dos exames nacionais do referido ano. Houve quem não
tivesse entregue este relatório e quem assim procedeu, aparentemente, foi
excluído da “Bolsa de Classificadores de Exames Nacionais”. Também durante este
ano letivo, os mesmos professores, qual elite magnífica, voltou a ter formação,
desta vez online, durante uma semana e meia, com tarefas diárias, como perante
uma situação imaginária fazer uma tomada de posição, ler textos específicos e
fazer uma reflexão sobre os mesmos, fazer sínteses de determinados parágrafos, sobretudo
sobre pedagogia do ensino (onde está a pedagogia na correção dos exames
nacionais, se estes são um produto e não um processo?) e posteriormente análise
e proposta de classificação de respostas de exames nacionais de anos anteriores.
Quem não entregou relatório no ano transato, não fez esta formação deste ano, é
bom salientar! (Pelos vistos quem “chumba” não precisa de repetir, está
automaticamente eliminado, o que para alguns não deixará de ser um alívio e
para outros a recompensa da incompetência!). O objetivo desta formação é
uniformizar o tipo de correção e especializar os professores classificadores
nesta tarefa? Desde quando esta formação diminui a subjetividade da correção
quando falamos de itens de construção (as antigas respostas abertas)?
Após estes preâmbulos chegamos ao
cerne da questão. Formaram-se professores, não todos os do país, seria muito
dispendioso, massacraram-se alguns dos professores deste país com uma formação
durante uma semana e meia numa altura em que as escolas estão ao rubro com
trabalho e, claro, como estes são os “professores de elite” também a correção
dos exames recai (quase) exclusivamente nestes. Se o princípio de formar
professores classificadores de exames está correto, com toda a certeza que sim,
mas o mais justo seria que todos os professores fossem formados para tal
tarefa, porque o que se passa neste momento é que muitos dos professores que
estiveram a lecionar o ano de exame não estão a corrigir a dita prova e os
outros, os da bolsa, levam com cerca de sessenta provas para corrigir em tempo
record, quando o seu colega do lado está liberado desta função. Pior, e mais
uma vez tomando o caso do exame de Português – 639, um professor recebe
cinquenta e seis provas numa quarta-feira e tem que fazer uma primeira correção
das quatro perguntas de interpretação e do texto B do grupo I até sexta-feira
às dezoito horas, a fim de colocar as dúvidas suscitadas pela correção.
Cinquenta e seis provas! O professor tem que ser libertado de todo e qualquer
serviço de escola – é a resposta do GAVE. E se tiver conselhos de turma de
avaliação dos outros níveis de ensino que não têm exame? E se for diretor de
uma dessas turmas e a sua reunião estiver marcada para um desses dias? E se
pertencer ao secretariado de exames? Não faz nada disso? Limita-se a dizer à
direção “Meus queridos, agora tenho que corrigir os exames, portanto,
esqueçam-me”? E o professor não tem que dormir? Parece-me impossível cumprir
estes prazos. É que a vida profissional continua para além dos exames, a escola
não para, nem pode parar (já nem falo da vida pessoal do professor, essa está
relegada para terceiro plano durante todo o ano letivo!). Não seria preferível
escalonar mais professores para a correção de exames (mesmo os que não
pertencem à Bolsa de Classificadores) e atribuir a cada um um número inferior
de provas? Não seria mais justo? Não seria menos penalizador e massacrante para
aqueles que são sempre os mesmos? Não existiria mais qualidade, sim, qualidade,
porque com menos exames para corrigir a concentração e disponibilidade é outra?
Todo este cenário existe apenas no ensino secundário. Para os exames do ensino
básico não foram formados professores, por isso (quase) todos são chamados, o
que permite que cada um deles receba cerca de trinta e cinco provas para
corrigir. Interessante, os professores do básico não precisam de formação...
que mensagem é esta que o GAVE e o Ministério da Educação estão a transmitir?
Não, não pertenço à tão aclamada
Bolsa de Classificadores e, por isso, não fui chamada para corrigir exames.
Não, os professores pertencentes a esta Bolsa nem por isso corrigem melhor os exames do que os outros (vi classificações incongruentes/incorretas nos exames que me apresentaram para pedir recurso). Não, não estou minimamente feliz por ter menos trabalho para fazer. Pelo contrário,
estou revoltada por não ter sido chamada. Queria ter sido chamada. Considero
que qualquer professor que leciona anos de exame, aliás todos os níveis de
ensino, deve ser chamado a corrigir provas, pois só desta forma podemos
melhorar todo o percurso de um ano letivo que, supostamente, serve para que o
aluno possa desenvolver competências, adquirir conteúdos e atingir objetivos de
modo a alcançar o sucesso nos exames nacionais.
“É a Hora!”
de pensar, efetivamente, na qualidade do ensino. “É a Hora!” de confiar e
valorizar o trabalho docente. “Falta cumprir-se [a educação em] Portugal!”