quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O "eu" e o "outro"



Costumo dizer que o trauma da S. relativamente ao teatro vem desde o primeiro ano de vida, altura em que viu uma animação numa feira medieval que incluía um leproso que literalmente saltou para cima dela. Desde aí, a rapariga chora, grita, esperneia e nunca quer ver teatro. Ultimamente as coisas até estavam a melhorar, pensava eu, até que ontem estava a mostrar-lhe um trailler de uma peça antiga que fiz, tal como as fotografias. Foi o caos. Começou a chorar, aos berros, a dizer que estava lá outra pessoa, que me queriam fazer mal, etc, etc, etc.

Poderia dizer muitas coisas acerca disto, mas vou limitar-me a uma.

Quando olho para as minhas fotografias (ou filmagens) não me reconheço. Aquela não sou eu, é a outra, a personagem, com posturas, olhares, palavras, entoações, energias diferentes das minhas. Já me tiraram fotografias durante ensaios enquanto estava apenas a assistir e quando já estava a ensaiar e a diferença é claríssima. Nas primeiras reconheço-me, é a minha cara, sou eu mesmo, mas nas segundas é como se o "eu" não estivesse mais lá e é o "outro" que assume o poder. A verdade é que há uma transmutação.


A minha S. preocupa-me.

1 comentário:

lapsus disse...

Olá, linda.

O que dizer deste post? Fantástico... Como te compreendo.

Bjcs, miúda.

Lapsus