terça-feira, 30 de março de 2010

Só mais uma coisinha acerca do post anterior

Agora lembrei-me de um texto que já tive oportunidade de ler para uma plateia de pais e que aqui publico. Infelizmente não sei quem é o autor. Reitero cada palavra!

Pais maus

Deus abençoe os pais maus!

Um dia, quando os meus filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva um pai, hei-de dizer-lhes:

- amei-vos o suficiente para ter perguntado: onde vão, com quem vão, e a que horas regressam a casa?

- amei-vos o suficiente para ter insistido em que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidade de a comprar.

- amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar descobrir que o vosso novo amigo não era boa companhia.

- amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar a pastilha que “tiraram” da mercearia e dizerem ao dono: “Eu roubei isto ontem e queria pagar”.

- amei-vos o suficiente para ter ficado em pé, junto de vós, durante 2 horas, enquanto limpavam o vosso quarto (tarefa que eu teria realizado em 15 minutos).

- amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.

- amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração.

- Mais do que tudo, amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO quando sabia que me iríeis odiar por isso.

Estou contente, venci. Porque, no final, vocês venceram também. E, qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, vocês hão-de dizer-lhes, quando eles vos perguntarem se os vossos pais eram maus …que sim, que éramos maus, que éramos os pais piores do mundo:

- «Os outros miúdos comiam doces ao pequeno almoço; nós tínhamos de comer cereais, ovos, tostas.

- Os outros miúdos bebiam Pepsi ao almoço e comiam batatas fritas; nós tínhamos de comer sopa, o prato e fruta. E – não vão acreditar – os nossos pais obrigavam-nos a jantar à mesa, ao contrário dos outros pais.

- Os nossos pais insistiam em saber onde nós estávamos a todas as horas. Era quase uma prisão.

- Eles tinham de saber quem eram os nossos amigos, e o que fazíamos com eles.

- Eles insistiam em que lhes disséssemos que íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.

- Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles violaram as leis de trabalho infantil: tínhamos de lavar a loiça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Acho que eles nem dormiam a pensar em coisas para nos mandarem fazer.

- Eles insistiam sempre connosco para lhes dizermos a verdade, apenas a verdade e toda a verdade.

- Na altura em que éramos adolescentes, eles conseguiam ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata.

- Os pais não deixavam os nossos amigos buzinarem para nós descermos. Tinham de subir, bater à porta, para eles os conhecerem.

- Enquanto toda a gente podia sair à noite com 12, 13 anos, nós tivemos de esperar pelos 16.

- Por causa dos nossos pais, perdemos imensas experiências da adolescência. Nenhum de nós, alguma vez, esteve envolvido em roubos, actos de vandalismo, violação de propriedade, nem foi preso por nenhum crime. Foi tudo por causa deles.

Agora que já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados; estamos a fazer o nosso melhor para sermos “maus pais”, tal como os nossos pais foram».

(Autor desconhecido)

Dormir ao relento pelos Tokio Hotel

Ontem vi no Jornal da Noite da Sic uma reportagem que mostrava miúdas dos 13 aos 17 anos a dormir em tendas à porta do Pavilhão Atlântico à espera do concerto dos Tokio Hotel, que se realizará no dia 7 de Abril (se não estou em erro).
Ai Deus, mas este mundo está todo louco?
"Os meus pais deixaram porque sabiam que eu queria muito isto!" diziam elas, mas isto é normal? Ou sou eu que definitivamente estou velha e retrógrada?
Sim, eu já tive essa idade, sim fui a concertos e sim cheguei sempre mais cedo do que a hora marcada para apanhar um bom lugar, mas fui às 15h ou 16h para um concerto que começava às 22h, nunca dormi ao relento por causa disso!
Parece-me que há loucura a mais nos dias que correm, loucura a mais sobretudo nos pais que permitem uma coisa destas. Que educação é esta? Que valores são estes? Onde é que vamos parar? Mas tudo o que os filhos pedem é-lhes dado, caso contrário, coitadinhos dos meninos, ficam frustrados e traumatizados?
Santa paciência!
Quando é que as pessoas vão perceber que o "Não" é tão ou mais educativo que o "Sim"? Será que é muito difícil compreender que ao dizer sempre "Sim" estamos a criar jovens que não estão minimamente preparados para a vida?
A nossa sociedade está a atravessar uma crise de valores nunca antes vista e um dos grandes problemas é a desresponsabilização dos papéis de cada um. Os pais podem ser pais-amigos, mas não podem ser amigos-pais.
A subversão a que assistimos é assustadora e o futuro não me parece nada risonho!

Sensibilização

sábado, 27 de março de 2010

Olhares alentejanos III


Olhares alentejanos II



Arronches

Olhares alentejanos I



Vila Fernando

Quem anda à chuva molha-se


Pois que as unhas das minhas feijocas crescem que é uma coisa estúpida, resultado de dois em dois dias lá temos que as andar a cortar! A I. sempre que lhe cortamos as unhas, por incrível que pareça, fica muito quieta, já a S. nunca pára com aquelas mãos, ora... naturalmente, o inevitável acontece. Hoje, pela segunda vez esta semana, o papá-babado cortou o dedo à princesa (o mesmo, entenda-se)! Era sangue por todo o lado (deitou mesmo sangue, bastante).
Pormenor de somenos importância (gosto desta palavra - somenos) - os avós-galinha estavam cá em casa! JESUS! Era ver a aflição do avô a achar que a miúda ia morrer por ali e que nós não estávamos a dar importância ao caso! Parece-me que se fizéssemos alarido ou começássemos a dizer "Ai, coitadinha, dói muito!", aí é que ela chorava e não resolvíamos nada, só piorávamos a situação.
Haja paciência!
É claro que nem eu nem o pai gostamos de cortar os dedos às miúdas, é claro que nos dói (hoje, então, doeu mais a nós que a ela, pois a cachopa nem chorou!), mas só quem não corta as unhas aos bebés é que nunca lhes cortou um dedo! (Ou então a criança é muito quietinha e corre tudo bem, ou então cortam as unhas quando o bebé dorme, mas para isso a criança tem que dormir noutra cama que não a dela, porque nas camas de grades é um pouco difícil estar a cortar as unhas. Enfim!)
E pronto, por estas e por outras, qualquer dia tenho uma queixa no Tribunal de Menores por maus tratos às minhas feijocas!

Hoje é...

o Dia Mundial do Teatro! e o teatro é o pulsar da vida, é dar sangue e vida às palavras, é viver o outro dentro de nós.

sexta-feira, 26 de março de 2010

À janela de óculos de sol



Todas as manhãs, depois de tratar das feijocas, tomar o pequeno almoço e ir um pouco para a odiada-bomba (sim, neste momento já só é ODIADA), lá vou eu para a janela (completamente empoleirada) fumar um cigarrinho (sim, eu sei que não devia fumar, eu sei que faz mal, etc, etc, etc, eu sei, amiguinha Jo, eu sei).
Acontece que tem estado sol, um sol lindo, um sol que bate directamente na minha janela e que ofusca qualquer um e eu, simplesmente, coloco os óculos de sol. A minha figurinha é linda - de pijama, robe, completamente desgrenhada e de óculos de sol! Os meus vizinhos devem pensar "É doida!", "Que grande ressaca que ela deve ter, nem consegue suportar a luz do sol!", "Deve ter um problema, coitada!", etc, etc, etc, naturalmente só pensarão coisas más, que isto de pensar coisas boas ou normais acerca dos outros custa muito!
E assim se fazem as delícias-rumores-boatos alheios!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Actualização das feijocas

Hoje lá fui pesar as feijocas!
Relatório:
Í- 7,620 kg;
S - 7,500 kg.
Coitadinha da minha S. foi ultrapassada pela irmã (é a primeira vez!), mas também já era de esperar com a gastroentrite e a "esquisitice" em comer sopa... é no que dá! Vou ter problemas alimentares com esta miúda! Fruta e pápa que são doces come (então a fruta é vê-la a abrir a boca), agora sopinha... às vezes faz-me lembrar a Mafaldinha e a sua recusa à sopa! É que por vezes cerra mesmo os supostos dentes!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Parabéns pelos 30!!!

O meu amigo-vizinho que me fez este lindo serviço faz hoje anos.
Parabéns amiguinho! Bem-vindo aos "intas"!

Serra


Sempre ouvi as pessoas dizerem “Vou à terra” ou “Na minha terra” e a tristeza habitava-me nestas alturas. Eu nunca podia dizer isso, afinal vivia na terra onde tinha nascido. Uns anos mais tarde adoptei uma terra. Intitulei-a “A minha terra de coração”.

E como o meu coração por lá pairava!

Só lá ia uma vez por ano e os outros 360 dias eram vividos na ânsia de lá chegar. Toda a expectativa se centrava naquele olhar que me encadeava, toda a esperança naqueles beijos que nunca te dei. Tinha treze anos. Amei-te platonicamente durante quatro anos. Vivia das parcas palavras e olhares que trocávamos, das duas cartas que me mandaste infinitamente lidas, das ilusões que eu criava na crença de me amares também.

Sempre quis acreditar que não te era indiferente. Sempre quis acreditar que eu era especial. Talvez nunca tenha querido ver a realidade. Ainda hoje não a quero ver. Seria excessivamente penoso admitir.

Um dia chegou a notícia. Dois meses antes de eu lá ir. Deixei de comer durante dias. A tristeza e dor eram tão profundas que seria incapaz de continuar. Um trabalho de verão ceifou a tua vida e a minha. Fui viúva antes de tempo.

Hoje seria o dia do teu aniversário. 39 anos farias tu. A minha memória ainda é povoada pelos teus olhos.

Continuo a lá ir anualmente e faço questão de te visitar na tua nova morada. Foi junto à pedra fria que te confessei aquilo que sempre soubeste. Sempre fui transparente. Era demasiadamente visível o que sentia.

Inevitavelmente, hoje, lembrei-me de ti.
O passado faz parte de nós.
O passado constrói-nos.
A dor de uma perda não se esquece.

Este é o meu epitáfio para ti.

Morango

terça-feira, 23 de março de 2010

Passeio e queijadas




Com o dia lindo que estava convidei a minha querida A Minha Essência e o meu querido O Bichinho da Fotografia para irmos beber um café. Fomos aqui, depois passeámos por aqui e finalizámos aqui.
Foi maravilhoso! Soube muito, muito bem! Há muito tempo que não sentia aquele aroma típico da Vila, não ouvia o canto dos pássaros, não via as caleches a passar... Este pequenino ponto no mapa é um verdadeiro renascimento para as almas dos pobres mortais.

Obrigada amiguinhos por me permitirem partilhar este momento convosco!


Notinha sem a mínima importância(ou não) - Mas por que é que as pessoas querem sempre mexer nas minhas feijocas? Não podem ver um bebé que ficam logo a babar para cima dele! Desta vez nem foi muito mau, a senhora nem por isso tocou nas mãos nem na cara da minha I. (como já aconteceu, o que me deixou completamente eriçada), no entanto, quis pôr-lhe a chucha. Mas alguém lhe pediu isso? E depois insistia! Até que lhe tive que dizer que talvez a bebé não quisesse chucha! Posso parecer mesquinha, etc, etc, etc, mas não me parece bem que perfeitos desconhecidos queiram mexer nos bebés! Eu sei que ninguém faz por mal e que um bebé é sempre "apetecível", todavia as pessoas deviam lembrar-se que os bebés põem tudo à boca e que se calhar as nossas mãos não estão tão limpas assim que possamos mexer nos bebés dos outros. Eu nunca mexo nos bebés dos outros sem permissão, por que é que cada vez que eu saio à rua tenho destes filmes?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pelas palavras do António Feio e pelo trailler*





*ou de como a vida (e/ou um pormenor) nos pode sempre mostrar outro caminho.

E que tal o exemplo dos suecos?

domingo, 21 de março de 2010

Quem tem amiguinhas tem tudo, quem não as tem não tem nada!

Obrigada minha queridinha pelas dicas de ontem!
A minha S. hoje comeu a sopinha normal, o leitinho normal e a pápa normal (tudo normal) e nem vomitou nem recusou nada!

Chama-lhe parva! Ainda nem tem 7 meses e já sabe o que é bom!

Hoje é dia de Poesia e de poetas...

... por isso, aqui ficam algumas palavras do genial Fernando Pessoa

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Sensibilização

Revisitar o passado

Fui ao teatro.

Ouvi o texto dentro de mim.

As palavras que há uns anos disse, ouvi-as pela boca de outra.

(e tão mal que as ouvi!!!).

Mais uma vez, ressoaram os sentimentos.



Há passados revisitados que magoam.

sábado, 20 de março de 2010

Eu não dizia?!

Realmente, o dia 19 de Março de 2010 tem que ficar riscado do mapa. Depois disto e mais isto, a minha S. voltou a vomitar ao jantar, não bebeu o leite todo à ceia (o que significa que o medicamento também não foi tomado na totalidade), houve um apagão geral aqui na zona e parti o termo novinho em folha.

Graças a Deus já é dia 20 de Março. Espero que este dia seja bem melhor!

sexta-feira, 19 de março de 2010

O primeiro dia do pai a sério

Eu que tinha encomendado uma coisa linda para dar ao papá babado neste dia, acabei de saber que só para a semana é que estará pronta!
Não há direito!
E agora o que é que eu faço?

(entretanto este dia já teve acontecimentos maus em excesso, foi o vomitado às 2h, o cocó às 8h, esta notícia às 11h! Estou a ficar com medo! O que mais acontecerá!)

... e ainda a gastroentrite...

Eu que pensava que já estava tudo sanado, ontem a minha S. voltou a vomitar! Grande parte da culpa foi minha, pois insisti que ela bebesse o leite, embora ela o estivesse a recusar.
Eu sei que a médica me tinha dito para eu não insistir, mas o leite tinha o medicamento lá dentro! Ela tinha que o beber! Olha, foi "pior a emenda do que o soneto"! Nem ficou remédio, nem leite, nem nada e lá andei eu às duas da manhã a trocá-la, acalmá-la, limpar o chão, etc e tal. Resultado, não dormi quase nada.
Para culminar em grande esta odisseia, hoje de manhã fui presenteada com um belo de um cocó que transbordou para a roupa e cama! Toca de trocar e lavar tudo.

A Sra Gastroentrite já se podia ir embora de vez, não?

quinta-feira, 18 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

A música das minhas feijocas (especialmente da I.)

Quando fomos ao Algarve, em Dezembro, a minha I. lembrou-se de fazer uma grande birra para mamar e nesse preciso momento estava a dar Os Ídolos, mais especificamente o Isn't she lovely na versão do Salvador.



Ora, tal como ele, eu também não sei a letra e comecei a cantarolar o refrão (apesar de completamente adulterado) e ela calou-se e mamou.

Hoje, cada vez que elas me ouvem a "cantar" esta música fartam-se de rir!
Tenho que ver vezes sem conta a versão original para aprender a letra, porque estar sempre a cantar o mesmo e a fazer "teo, neo, neo, neo, neo" já cansa!

Nova ida ao consultório

E no sábado tive que voltar ao consultório!
Afinal a minha S. tinha/tem uma gastroentrite viral (diagnóstico feito via telefone, uma vez que já não consegui apanhar lá a médica)!
Agora já está medicada e muito melhor.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Consultório novo...

A minha feijoquinha S. teve febre ontem e hoje. Não faço ideia do que se trata. Fui à Petriatra para obter respostas, mas infelizmente não foi ela quem nos atendeu, mas sim o médico das urgências, e vim como fui, com um enorme ponto de interrogação, "Ah e tal pode ser um resfriadozinho, embora a respiração e auscultação estejam óptimas", "Ah e tal pode ser os dentes a quererem romper o que baixa as defesas", "Ah e tal, etc". Não sei porquê mas não tenho uma boa impressão deste senhor, já é a segunda vez que somos atendidas por ele e parece-me sempre que este médico não se quer comprometer com nenhum diagnóstico efectivo. Enfim, logo veremos o que se passa, talvez o senhor tenha razão desta vez, e tudo corra pelo melhor, assim o espero!

... mas giro, giro foi o facto de ter pago 50 euros por esta urgência, quando há um mês atrás não paguei nada pelo mesmo serviço!

Pormenor de somenos importância - o consultório mudou de instalações e agora estão num espaço muito melhor. Se calhar agora as urgências são pagas porque afinal há que pagar o espaço. Ou sou eu que estou a ser muito má?

quinta-feira, 11 de março de 2010

E hoje...

... faz 10 anos!
Parabéns Maluco!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sensibilização

...e no dia da mulher...

... cada mulher cá de casa (entenda-se, eu e as feijocas) recebeu isto.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O ensino da Língua Portuguesa

Tenho saudades do Diário de Sebastião da Gama e da filosofia que por lá paira.
O ensino da Língua Portuguesa já não é o que era e tende a piorar a cada dia que passa.

sábado, 6 de março de 2010

... um dia estoira...

Há dias em que me sinto assim (III)

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

Há dias em que me sinto assim (II)

LISBON REVISITED (1926)

Nada me prende a nada.

Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos

Há muitos dias em que me sinto assim (I)

LISBON REVISITED (1923)

Não: Não quero nada.

Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos

Depois da tempestade vem a bonança

O sorriso no prato fez surgir um no rosto!

A natureza tem destas coisas!


quarta-feira, 3 de março de 2010

Fechar a porta

Desde que me conheço tenho pavor a fechar a porta. Fechar a porta é algo muito definitivo. Prefiro que me fechem a porta a ser eu a fazê-lo, mesmo nas pequenas coisas. Prefiro as portas encostadas, entreabertas, mas nunca fechadas e mesmo quando a porta está fechada a sete chaves, eu tento que se abra uma janela. Tenho dificuldade em encerrar de vez os ciclos, parece que poderia haver sempre mais alguma coisa e se trancar a porta definitivamente então depois não há volta a dar, não há retorno e isso assusta-me. É o eterno "e se..." (odeio esta conjunção subordinativa condicional).
Ontem e hoje, enquanto estava a dar de mamar, agora sem recurso à bomba (e sem saber se as minhas feijocas estão a beber o suficiente), só pensava que não quero fechar esta porta. Preferia que as produtoras-do-leitinho-bom desistissem por elas, secassem, dissessem "basta, estamos cansadas e daqui já não sai nada", a ser eu a dizer "já chega" (apesar de acreditar nos sinais).

Sou mesmo complicada!

terça-feira, 2 de março de 2010

Sinais

E de repente não funcionou mais. experimentei uma e outra vez, passei-a para o "modo a pilhas" e nada. Caiu um "ferrinho" lá de dentro e finito, kaput. A minha amada-odiada bomba eléctrica estragou-se. Como a dita bomba é XPTO também tem o "modo manual" e, como precisava desesperadamente de tirar leite, continuei nesta "labuta" diária, mas não é mesmo a mesma coisa. Para além de não extrair o leite à velocidade desejada, provoca dores e um cansaço extremo nas mãos que accionam o mecanismo. Solução - como a bomba ainda está na garantia tenho que ir à loja onde a comprei para que haja a substituição devida, no entanto, quando me estava a preparar para sair de casa com as miúdas em direcção ao "hospital da bomba", começou a chover torrencialmente e, naturalmente, não fui a lado nenhum!

Está-me cá a parecer que isto é um sinal para eu parar de "dar à bomba", dar descanso às minhas maminhas, passar para o leitinho em pó, começar a fazer alguma coisinha por este corpão (que nunca foi corpinho) para poder vestir pelo menos um 44 e virar do direito esta vida que está do avesso!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sinais de Fogo

Hoje tive a confirmação. O Miguel Sousa Tavares é a versão masculina da Manuela Moura Guedes. Ele não deixou o entrevistado falar, ele defendeu a sua própria tese, ele falou em tom incriminatório, enfim, ele fez tudo menos aquilo que um entrevistador isento deve fazer.
Foi por estas e por outras que eu tive tantas reticências em ler as suas obras, tal era o receio de não me conseguir distanciar da imagem que tenho dele em pessoa, mas, justiça seja feita, como escritor só posso dizer bem, agora como entrevistador... santa paciência!