Infelizmente, a reportagem que passou hoje na TVI mostra a realidade dos nossos adolescentes.
Hoje a pressa de crescer, de fazer aquilo que os adultos fazem é de tal maneira atroz que os jovens deixaram de viver o que é próprio de cada faixa etária.
Chamem-me o que quiserem, mas não acho normal que miúdos com doze e treze anos saiam à noite, bebam bebidas alcoólicas e tenham experiências sexuais com a “curte da noite”. Aliás não acho normal que isso aconteça nem aos doze nem aos quinze.
A “impaciência, rebeldia e fúria de viver” mencionadas na reportagem só fazem com que a vida dos adolescentes de hoje seja vivida precocemente e por isso deixe de fazer sentido muito mais cedo, deixe de haver a novidade e a surpresa próprias de cada acontecimento novo.
Choca-me ouvir uma miúda de quinze anos dizer que bastam “cinco dias, uma semana para dar o passo seguinte” numa relação (entenda-se o que se quer dizer com “passo seguinte”).
Choca-me ouvir um rapaz de dezassete anos dizer que já não tem vontade de ir para a noite, porque já conhece tudo.
Como é que é possível? Está a perder-se tudo.
Eu só comecei a sair à noite (ir a bares e discotecas) com os meus dezoito anos e, mesmo assim, foi preciso fazer um contrato com os meus pais em que eu me comprometia a fazer uma série de coisas para poder sair seis vezes por ano à noite e chegar no primeiro comboio da manhã! Por isso mesmo, “sair à noite” adquiriu uma grande importância na minha vida e durante muitos anos gostei da noite e fui descobrindo mais sítios e hábitos, sabendo sempre pesar o que devia ou não fazer.
Na minha educação, a disciplina, a autoridade e o “não” sempre estiveram presentes e foram eles que me formaram e me fizeram saber distinguir o bem do mal. Os meus pais sempre foram pais com tudo o que isso representa.
Hoje, como referia o psicólogo Quintino Aires, a figura do adulto tende a desaparecer, porque tudo o que “cheira a imposição, cheira a ditadura” e todos os pais fogem disso. Segundo ele, os pais têm medo de dizer que não e gabam-se de serem o melhor amigo e a melhor amiga dos seus filhos, quando na realidade esse é um erro crasso. Os pais têm que ser pais, têm que representar a autoridade, a disciplina, o respeito. Os filhos têm que obedecer aos pais, respeitar as pessoas mais velhas e saber lidar com o “não” e com a frustração.
Hoje, com medo de perder os filhos, nunca se chega a tê-los efectivamente, porque os papéis deixam de servir às partes implicadas cedo demais.
Hoje, a crença no “sim” e na condescendência faz com que os jovens sejam cada vez mais imaturos (apesar do seu aspecto exterior nos mostrar o contrário) e acreditem no facilitismo de tudo, afinal tudo lhes é permitido.
Hoje, acredita-se em pedagogias que estupidificam as crianças porque elas não podem ser confrontadas com o erro e a frustração, nem podem levar uma palmada no momento certo, pois podem ficar com traumas.
Torno a dizer, chamem-me o que quiserem, mas hoje perdeu-se toda a noção de crescimento e educação.
O “não” é uma das palavras mais importantes na educação.
Lidar com o insucesso e a frustração faz bem aos adolescentes, fá-los crescer e saber superar os obstáculos que a vida lhes reserva.
Experimentar tudo cedo demais retira o sabor da vida, retira a surpresa, a descoberta…
Saltar a adolescência para fazer uma vida adulta cria adultos sem responsabilidade e noção dos limites.
Sim, eu sei que vou ser mãe.
Sim, sei que educar não é fácil.
Sim, a teoria é sempre muito fácil.
Espero não me esquecer de nada do que aqui escrevi.
Espero que quando me desviar dos meus ideais me lembre/me lembrem de consultar as minhas próprias palavras.