quinta-feira, 28 de março de 2013

Contemplação - precisa-se


Preciso de momentos de contemplação.
Vir a esta praia.
Ficar assim.
Sentada.
Olhar o infinito.
Pensar no passado que não volta. Mesmo estas ondas que vão e vêm nunca são as mesmas. Há água que desiste da sua luta e fica na areia e a outra, a que volta para trás e vem novamente, transforma-se e encarna ondas diferentes.
Às vezes, penso que fiquei lá longe e que desconheço o caminho para o hoje. Não me sinto daqui. Ficaram tantas coisas por resolver. Continuei sempre a caminhar sem parar. O tempo aniquilou-me e eu deixei que ele me aniquilasse. Entrei neste rodopio sem pedir licença e sem paragens em estações e apeadeiros. A minha vida é um TGV (não aquele shot que tantas vezes consumi sem efeito nenhum, mas o comboio de alta velocidade que sem pensar chega a um destino que não se previu ou quis plenamente).
Às vezes, tenho medo de pensar. Quando penso, tudo é posto em causa e tenho medo das conclusões.
Não fiz tudo o que queria ter feito.
Não me dediquei a tudo o que me chamava.
Calei sempre o grito que hoje deixou de ter voz.
Ando por atalhos e colho migalhas daquilo que poderia ter sido e nada me contenta e nada me completa e nada me torna eu e nada é o que deveria ser e tudo é minado e apodrece.
Precisava tanto de vir a esta prai mais vezes.
Ficar assim.
Sentada.
Olhar o infinito.
Pensar no futuro.

27.março.2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

A minha tia Carlota


Hoje, a minha tia que foi avó faria anos.
A minha tia Carlota a quem eu dizia, desde miúda, que teria que ir ao meu casamento com um vestido até aos pés e uns brincos compridos.
A minha tia Carlota que fazia aquela torta maravilhosa e com quem nós brincávamos dizendo "a torta da Carlota"e ela ria (isto se não fosse o meu pai a dizer, nesse caso ela tinha sempre uma resposta pronta!).
A minha tia Carlota que era tesa, forte, inabalável, convicta.
A minha tia Carlota mal amada mas porto seguro de todos.
A minha tia Carlota que se enchesse um copo com água e não a bebesse toda guardava o resto para quando tivesse sede novamente.
A minha tia Carlota que aproveitava tudo e nada era deitado fora ou desperdiçado.
A minha tia Carlota que tinha galos e coelhos e pássaros e gatos.
A minha tia Carlota que fazia bolos amarelos por causa dos ovos postos naquele dia, e que fazia um arroz com chouriço como nunca comi.
A minha tia Carlota que tinha uma gargalhada inconfundível.
A minha tia Carlota que era uma MULHER de verdades, de certezas, de garra, de pulso.
A minha tia Carlota que sempre fez tudo, sozinha, sem ajuda.
A minha tia Carlota que nunca perdeu a consciência e foi sublime até ao fim.
A minha tia Carlota que esperou por mim para um último adeus.
A minha tia Carlota que nunca teve filhos mas que foi mãe e avó e tia e companheira e mulher e amiga e inspiração e exemplo.
A minha tia Carlota que nasceu no dia certo porque ela era vida e sangue e suor e lágrimas e riso e força e muita força.
A minha tia Carlota que continua a ser a matriarca que ninguém esquece.



Nota: Não foi de vestido comprido até aos pés nem de brincos compridos ao meu casamento, mas foi linda, digna, sublime, com a sua elegância de oitenta e muitos anos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

?



Se alguém encontrar por aí a pessoa que já fui, avise-me, que eu já não sei onde ela está...

segunda-feira, 18 de março de 2013









































Hoje, voltaste a habitar-me em sonho...
















... tão real...




















Onde andarás?













Joana Cato

sábado, 16 de março de 2013

Exames de 4ºano nos agrupamentos!!!

Não posso ficar calada a propósito desta notícia.
Os senhores dos gabinetes do Ministério da Educação não percebem mesmo nada disto! Estar sentado à frente de um computador, livros, artigos, etc, em nada se compara a estar em frente de crianças e jovens. Há uma coisa que se chama sensibilidade, bom senso e perceção da realidade.

O fator Exames é angustiante para os alunos. Saber que todo um processo de dois, três ou quatro anos irá ser avaliado em cento e vinte minutos é já suficientemente injusto. Se acrescermos a isso o facto dos alunos terem que se deslocar para outro estabelecimento de ensino, então todo o processo psicológico dos alunos vai sofrer e influenciar (ainda mais) negativamente os resultados obtidos.

Não tenho experiência com alunos do 4ºano, no entanto, sei o stress e nervosismo por que passam os alunos de 9º e 12º anos sempre que vão a Exame. Eles até podem saber as matérias, dominar os conteúdos, mas assim que chega o dia, estão tão nervosos que nem conseguem ler corretamente os enunciados e textos e cometem erros inexplicáveis. Pormenor - tudo isto acontece num espaço que lhes é familiar. A sua escola. Aquela que frequentaram durante X anos ou até uma vida. Os vigilantes são professores que, pelo menos, conhecem de vista e que, portanto, lhes dão algum conforto apenas pela sua presença.

Que cabeças são estas que querem exigir que crianças de 9 anos tenham que suportar todo o ambiente que se cria à volta de um Exame Nacional, com a agravante de terem que o realizar numa escola que não é a delas e com dois professores completamente desconhecidos?

Que mentes depravadas são estas que consideram um risco que os meninos sejam ajudados pelos professores vigilantes?

Esta falta de sensibilidade para com o aluno (o aluno que também é pessoa, lembram-se, o aluno é uma pessoa, com sentimentos, medos, angústias, alegrias, tristezas, é pessoa, é suscetível, é sensível, entra em stress e nervosismo rapidamente) e a falta de confiança nos professores deixa-me doida.

Esses senhores dos gabinetes não sabem o que é estar no terreno, não sabem como lidar com pessoas e acham que os Exames são a maravilha das maravilhas e que é com eles que melhoramos o ensino.

Enganam-se. Por causa dos Exames os conteúdos e competências não são melhor desenvolvidos, porque não há tempo, porque há que adestrar os alunos para uma tipologia fixa e tudo aquilo que eles poderiam ganhar na escola nunca chegam a vislumbrar sequer, porque o que interessa são os números. Mais uma vez falha a pessoa, falha a criatividade, falha a vida no ensino. Os alunos não gostam de matemática, nem de história, nem de português, porque os professores não podem viver, respirar os textos, saborear o poder das palavras, fazê-los voar e ser mais pessoa. Os professores têm que ser máquinas e os alunos têm que ser máquinas de debitar.

A pessoa fica sempre à margem. É triste.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Mazelas

Ontem, quando cheguei à escolinha e olhei para a cara da I. nem queria acreditar!


O nariz, a boca e o queixo estavam todos esfolados!
Quase chorei, só de imaginar a dor que ela teria sentido aquando da queda.
A irmã veio a correr contar o que se tinha passado e, claro, hipocondríaca como é, aproveitou para se queixar de um "dói-dói" que também tinha na perna, que doía muito e que não se via porque "é por dentro"!
Os factos, pelo que me disseram, são estes - ao que parece, estiveram a fazer o jogo dos sacos e a I. caiu e bateu com a cara no chão. Disseram que não chorou muito e que deixou desinfetar sem qualquer problema. Claro está que quando me viu, embora não tenha chorado, (ao contrário da S.-teatreira que simulou um choro devido à ferida "por dentro"-inexistente), fez aquela carinha de sofrimento de partir o coração.

Foi a primeira queda/ferida a sério. Ai!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Rabo quadrado

O rabo e a coluna doem descomunalmente.
Estou desde as 11h até agora sentada a corrigir testes (pausa de 30 minutos para almoço e das 17h30 às 21h para cumprir a função de mãe, função essa que nestas alturas é mesmo e só "função", sempre a pensar que não podem ficar doentes, nem podem custar a adormecer, nem podem chamar quarenta e sete vezes durante a noite, nem nada de nada, porque os testes e trabalho imperam, sempre).
O paraíso seria dizer que após todas estas horas tinha corrigido os 130 que me esperam... mas não... após esta maratona apenas 26 ficaram (quase) corrigidos (falta contar palavras e verificar um ou outro pormenor).
Foram aproximadamente 9 horas sentada a corrigir testes e apenas 26 estão (quase) corrigidos!?!?

E quem disser que os professores têm muitas férias e que não fazem nada e não percebem do que é que se queixam, só tenho uma coisa a dizer, não, afinal tenho duas...

Vão à merda e calcem os meus sapatinhos durante uma semana, uma semaninha apenas e vão ver que enlouquecem em três tempos!

Agora vou dormir, porque já não consigo ler nem decifrar caligrafias, porque me dói o corpo todo, porque amanhã é um dia duro, porque a noite passada foi de gritos, porque amanhã trarei mais 75 fichas para corrigir, e depois de amanhã mais 28 e 2ªfeira mais 27, porque estou a dar o tilt.



Bullying


Ontem, elas disseram-me que a educadora estava muito "chateada" com elas. Falaram de uma bandolete e do nome de uma das amiguinhas. Disseram que tinham estragado a bandolete. Foi uma conversa insistente e, por isso, disse-lhes que hoje falaria com a educadora para saber o que se tinha passado.


Mal cheguei, a educadora confirmou-me que estava muito zangada com elas e explicou-me. Ontem, o pai da tal amiguinha tinha dito que a miúda tinha pesadelos à noite e que não queria ir para a escola porque as minhas feijocas e a SB (comparsa desde sempre) lhe estavam sempre a bater! Sim, as três juntam-se e batem na outra.
Temos caso de bullying aos três anos.

Quando me queixo delas, tenho razão. Eu sei o calibre destas meninas.



Escuso de dizer que fiquei para morrer e que tive vontade de as trucidar.

Mas também não deixei de dizer, em forma de recado, que sempre que elas chegam a casa com a história de que esta ou aquela lhes bateu que elas devem dizer à educadora e não bater de volta. É que não são só elas que batem, elas também levam.(Não, não estou a desculpabilizar ninguém, mesmo por que estou a ver a cena das três em cima da outra, contudo, também não me agrada que elas recebam o rótulo.)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Renovação do léxico


Se a utilização continuar frequente, como tem sido nos últimos dias, a minha I. vai conseguir que uma nova palavra seja incluída no léxico português:
- nadíssima.
A rapariga é inteligente, afinal, já domina a regra do grau superlativo absoluto sintético dos adjetivos (só não sabe que "nada" não é adjetivo, mas que importância isso tem se, na verdade, ela está a criar um recurso estilístico com evidente expressividade!?)

Talvez lhe possa ser atribuída, aos três anos de idade, a equivalência à licenciatura de Línguas e Literaturas Modernas variante de Estudos Portugueses, porque não?