segunda-feira, 17 de junho de 2013

Greve dos professores aos exames


São escandalosas as afirmações dos alunos que estou a ouvir na Sicnotícias! À exceção de uma miúda de Almada, todos os outros revelam uma ignorância incrível, um umbiguismo alarmante e uma total falta de noção da realidade.
Já ouvi "os professores querem é dinheiro", "a culpa é dos professores", "os exames já estavam marcados há muito tempo", etc, etc, etc.
Qualquer greve tem que "lesar" e, neste caso específico, isso nem chega a acontecer efetivamente. Esta greve faz-se exatamente a pensar nos alunos e na qualidade de ensino, os professores não estão contra os alunos, estão a favor deles e é por isso que escolheram este dia para se manifestar.
O aumento de carga horária para os professores, a mobilidade e o aumento de alunos por turma só prejudicam o ensino em Portugal, portanto a culpa só pode ser das medidas governamentais para o ensino. O Estado não consegue compreender que o ensino é feito por e com pessoas e que essas pessoas não são números. Se tivermos trinta alunos (ou mais) dentro de uma sala de aula, é impossível fazer o acompanhamento personalizado que tantos precisam. Querer que os professores tenham uma maior carga horária é não perceber que a carga horária existente já é uma ilusão. Nenhum professor trabalha apenas trinta e cinco horas semanais. Eu não tenho noites, não tenho fins de semana, feriados, nada, tudo porque estou constantemente a preparar aulas, fazer fichas, fazer testes, corrigi-los, arranjar formas "acrobáticas" de interessar os alunos pelos conteúdos, etc, etc, etc. Quanto à mobilidade dos professores, isso só trará instabilidade no corpo docente, impedindo que as boas práticas de trabalho de pares pedagógicos e estratégias de escola deixem de existir, para além da desmotivação natural de qualquer pessoa que, de um momento para o outro, se vê desprovida da sua família e vida.
O exame de Português estará salvaguardado. Os alunos que não o fizeram hoje, fá-lo-ão brevemente, porque os alunos não serão prejudicados. A ideia peregrina de que o próximo exame será mais difícil não tem cabimento. Os exames estão feitos há bastante tempo, ninguém vai agora construir à pressa um terceiro exame. O grau de dificuldade será o mesmo que existe já entre a primeira e segunda chamada. 
O que me entristece é a falta de noção da realidade e de visão do outro.
Os alunos de hoje deviam pensar que o ensino continua para além deles e que se eles se queixam da qualidade de ensino, os que virão serão então uns verdadeiros coitados.
O Governo devia pensar um pouco mais nas pessoas e não só em Troikas e números. Se a sua grande bandeira são os Exames Nacionais, se considera que a qualidade de ensino passa pela existência destas provas, então, não pode aniquilar a qualidade da avaliação contínua, todo um ano letivo que serve para apreender e consolidar competências e conteúdos por forma a conseguir um bom desempenho nesses malfadados Exames Nacionais.
Os professores deviam conseguir passar melhor a informação, afinal, a opinião pública faz-se a partir daquilo que se ouve e, por vezes, nem sempre o que se ouve é o mais esclarecedor.
A sociedade em geral devia saber analisar a informação, sair do seu casulo, calçar os sapatos do outro e ponderar todas as coordenadas. Talvez tivessem outra opinião acerca dos professores.

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