quarta-feira, 27 de março de 2013

A minha tia Carlota


Hoje, a minha tia que foi avó faria anos.
A minha tia Carlota a quem eu dizia, desde miúda, que teria que ir ao meu casamento com um vestido até aos pés e uns brincos compridos.
A minha tia Carlota que fazia aquela torta maravilhosa e com quem nós brincávamos dizendo "a torta da Carlota"e ela ria (isto se não fosse o meu pai a dizer, nesse caso ela tinha sempre uma resposta pronta!).
A minha tia Carlota que era tesa, forte, inabalável, convicta.
A minha tia Carlota mal amada mas porto seguro de todos.
A minha tia Carlota que se enchesse um copo com água e não a bebesse toda guardava o resto para quando tivesse sede novamente.
A minha tia Carlota que aproveitava tudo e nada era deitado fora ou desperdiçado.
A minha tia Carlota que tinha galos e coelhos e pássaros e gatos.
A minha tia Carlota que fazia bolos amarelos por causa dos ovos postos naquele dia, e que fazia um arroz com chouriço como nunca comi.
A minha tia Carlota que tinha uma gargalhada inconfundível.
A minha tia Carlota que era uma MULHER de verdades, de certezas, de garra, de pulso.
A minha tia Carlota que sempre fez tudo, sozinha, sem ajuda.
A minha tia Carlota que nunca perdeu a consciência e foi sublime até ao fim.
A minha tia Carlota que esperou por mim para um último adeus.
A minha tia Carlota que nunca teve filhos mas que foi mãe e avó e tia e companheira e mulher e amiga e inspiração e exemplo.
A minha tia Carlota que nasceu no dia certo porque ela era vida e sangue e suor e lágrimas e riso e força e muita força.
A minha tia Carlota que continua a ser a matriarca que ninguém esquece.



Nota: Não foi de vestido comprido até aos pés nem de brincos compridos ao meu casamento, mas foi linda, digna, sublime, com a sua elegância de oitenta e muitos anos.

1 comentário:

RJ disse...

A garra de Mulheres assim, está impregnada nos genes! :)